sábado, 25 de outubro de 2014

Viagem a Atelari

Fomos convidados para viajar até Atelari e assistir à inauguração de um monumento de homenagem aos heróis da libertação de Timor. Fomos numa pequena comitiva até ao distrito de Baucau, o terceiro mais populoso (a seguir a Díli e a Ermera).

Saímos de Díli na Sexta-feira, já noite. "Aquilo são estrelas ou são luzes?"
A minha dúvida é facilmente compreendida se tentarem imaginar um céu escuro como montanhas e estrelas brilhantes como lâmpadas. As estrelas chegavam ao chão, ou então as montanhas chegavam ao céu! Não dava para ter a certeza.
Subimos, subimos, subimos e, de repente, ao nosso lado e lá em baixo, um tapete luminoso, Díli. Como uma outra qualquer capital do mundo. Cheia de luzes, cheia de cores.
A estrada era estreita e sinuosa, mas aqui chamam-lhe "auto-estrada" e é a melhor que há e que a topografia permite, e tem alcatrão. Depois de duas horas e meia, chegámos a Baucau. O nosso hotel chamava-se "Farmácia Bonita". Não sei porquê.
No dia seguinte a viagem até Atelari, o destino final, começou cedo. 7h00 da manhã e já estávamos na estrada.


"Olha ali aquelas montanhas tão grandes! Como é que se vai para ali?" - ao mesmo tempo que fiz a pergunta,  alguma coisa me dizia que era para ali que nós íamos. Mas como, se tão grandes e tão perto das nuvens tão altas?


Passada uma hora, as montanhas já pareciam mais pequenas, e as nuvens estavam mais perto. Também ainda estão a pensar no "como"? Assim:


Duas horas passadas, chegámos.
Em Atelari tínhamos uma recepção calorosa à nossa espera. Como os afetos não se fotografam, ficamos pela comida. Ora vejam:


Milho, talas, batata doce roxa e kumbili. Tirando o milho, as outras três coisas são tubérculos. Posso dizer-vos que esta batata doce é uma especialidade!

Seguimos a pé para a cerimónia. Quando chegámos, os veteranos das FALINTIL estavam à espera para as boas vindas a todos. (As FALINTIL eram as Forças Armadas de Libertação e Independência de Timor-Leste e eram o braço armado do partido de resistência, FRETILIN. Hoje estão integradas nas Forças de Defesa de Timor-Leste - FDTL.)



Depois de todos passarmos, seguiram marcha atrás de nós, sempre ao som dos tambores. Homens e mulheres que combateram nas guerrilhas, e também alguns jovens, a representarem os exércitos tradicionais.


Durante uma cerimónia de várias horas sentimo-nos os meninos à volta da fogueira. A aprender como se ganha uma bandeira e a saber o que custou a liberdade.
"Liberdade é responsabilidade.", ouviu-se. "A nossa luta continua! Agora lutamos pelo desenvolvimento." E mais: "A educação é a chave para o desenvolvimento! Educação, acção, progresso." Em tom de palavras de ordem, os sonhos, as verdades e as vontades de quem começou do início a escrever a história de um país, com pessoas já cheias de histórias e tradições.


(Esta é apenas parte do monumento inaugurado.) O monumento parece um conjunto de várias campas fúnebres, mas onde na realidade não jaz ninguém, porque muitos dos corpos nunca chegaram a ser encontrados. Soube-se apenas que os guerrilheiros foram capturados pelas tropas indonésias.


O momento do hastear da bandeira. Em Portugal, manda a tradição que a bandeira suba depressa e desça lentamente. Mas esta subiu devagar, muito devagarinho, ao mesmo tempo que se refletia sobre o significado de ter uma bandeira para hastear.


Voltemos à comida! Os aperitivos ao almoço:


Em cima, kuerambo. Não sei explicar bem como se faz. Leva farinha e água. São feitos uns fios com uma rede, depois é frito. É doce, é crocante e é bom. Em baixo, banana chips. Estão a ver aqueles aperitivos de banana seca que há em Portugal? Nada a ver! Isto é óptimo.
Para o almoço houve carne, peixe no forno, bacalhau à brás (oh yeah, baby!), arroz assim, arroz de outra maneira, marisco, legumes cozinhados e crus. Pudins e bolo. Tudo buffet!

Depois de almoço, vieram as danças. Primeiro as tradicionais, depois as de todos. (Sim, sim. Até eu e o David, que por inexperiência e falta de jeito tivemos de ser ajudados por timorenses a sério para perceber como é que afinal isto se faz!) Aqui dança-se como quando se pisava o arroz, em roda. Aqui dança-se quase quietinho, mas os pés mexem-se de maneiras complexas. A música é quaternária, mas os pés estão em ternário. É Ásia! (Ah! Já agora, se por falta de som tiverem, por momentos, vontade de comparar ou imaginar música africana, não façam isso. Não tem nada a ver, ok?)


Durante a cerimónia foram chamados todos os presentes que não eram da aldeia para receber o TAIS. Aqui estamos nós:


E foi assim! Mais um dia na Terra onde Nasce o Sol.

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