domingo, 13 de março de 2016

A ilha das Flores

Uma muito esperada semana de férias em Fevereiro serviu para nos deslocarmos à famosa ilha das Flores localizada na província indonésia Timur Nusa Tenggara. Famosa do ponto de vista histórico-cultural português por ali ter havido presença lusitana desde o século XVI. Os descobrimentos que trouxeram os portugueses a Timor-Leste, também levaram comerciantes e missionários até àquelas paragens e, por isso, a população da ilha é largamente católica e as línguas locais revelam alguma influência do português. Na parte mais oriental da ilha é muito comum encontrar pessoas com sobrenome bem lusitano: Silva, Carvalho, Santos, Soares, etc.


A ilha das Flores fica localizada a noroeste de Timor e um voo direto desde Díli teria, provavelmente, uma duração inferior a uma hora. Mas não existe tal voo. É possível viajar para as Flores a partir de Kupang, capital de Timor Ocidental, mas a viagem entre Díli e Kupang são umas penosas 12 horas de carro e teríamos de requerer visto antecipado junto da Embaixada da Indonésia. 

Optámos pela alternativa mais pragmática: voar de Díli para Bali e depois dali para as Flores, o que, na verdade, significa andar para a frente e para trás. 

Ah! A ilha das Flores é também famosa pela fauna, nomeadamente pela presença do dragão de Komodo. Mas a espécie habita a ponta ocidental da ilha, na zona de Labuan Bajo, enquanto nós optámos por ficar perto da cidade de Maumere, a capital da ilha, na zona mais oriental. 

Sendo estas umas férias com o propósito de descansar, muito do nosso tempo foi passado no fantástico Budi Sun Resort. É um lugar muito tranquilo, com decoração e mobiliário tradicional em bambu e muito bonito, com um staff atento que decide fazer upgrade do nosso quarto sem cobrar mais, e com comida 5 estrelas. 



A ilha das Flores tem muitas semelhanças com Timor-Leste, inclusive semelhanças culturais. Tal como em Timor-Leste, o catolicismo parece estar fundido com um animismo muito enraizado. A organização do território é semelhante: mesmo fora dos centros urbanos há sempre uma casa aqui, outra acolá, como que pontilhando todas as zonas com presença humana. (Esta é uma diferença assinalável que se nota entre a Europa e estas ilhas asiáticas: talvez por força da demografia, ou por ser necessário explorar todos os pedaços de terreno para a agricultura de subsistência, aqui parecem não existir zonas desertas.) As infraestruturas na ilha das Flores estão um pouco mais desenvolvidas do que em Timor. As estradas bem alcatroadas estão em melhores condições (não se livrando das ocasionais derrocadas) e os edifícios são, regra geral, melhor construídos até porque aqui disseminou-se já o uso do tijolo na construção de casas, enquanto que em Timor-Leste ainda se usa muito os blocos de cimento. O turismo está também mais desenvolvido. Aliás, nesse aspeto a ilha das Flores constitui um bom modelo daquilo a que Timor-Leste pode almejar e que está, de resto, afirmado no Plano Estratégico de Desenvolvimento do país: o turismo há de tornar-se um dos motores da economia timorense, mas não há de ser um turismo de massas (como o de Bali) mas um turismo direcionado para públicos-alvo específicos (desportos e atividades aquáticas, turismo de montanha, turismo cultural) sustentável, integrado nas comunidades e com um cariz fortemente ecológico. 

A ilha das Flores tem, na região de Maumere, na região de Ende e na região de Labuan Bajo (talvez as 3 principais cidades da ilha) uma oferta equilibrada de estâncias de eco-turismo quer em qualidade quer em quantidade. Arriscamos até dizer que é um destino turístico muito mais interessante do que Bali (só é pena não ter uma praia como Kuta com a ondulação necessária à prática do surf!).

Estas e outras conclusões foram obtidas nos passeios feitos pela ilha e nas conversas tidas com o sr. António, o condutor do Budi Sun que nos guiou nesses passeios, e com o sr. Carlos, irmão de um colega e amigo da Débora que vive em Maumere e que tivemos oportunidade de conhecer. 

Um dos locais mais fixes a que pudemos ir foi a vila de Sikka. Aqui a herança portuguesa está bem visível: a igreja da vila, uma singela igreja em madeira, terá sido reconstruída a partir de uma igreja que os portugueses ali plantaram e alberga uma estátua de Cristo que se acredita terem sido os portugueses a levar para aquela vila em 1641. 






Aqui encontrámos uma Catarina da Silva que ficou muito entusiasmada quando soube que a Débora também é Catarina da Silva. Eis, portanto, uma foto com duas Catarinas da Silva e mais um bando de miúdos muito simpáticos e risonhos que arranhavam o inglês:


Em Sikka há um grupo de senhoras que vendem tais das Flores (ikat, em língua indonésia). Para além de venderem, uma das senhoras fala inglês e, a troco de 20.000 rupias, explica o processo de confeção do tais dando até oportunidade à Débora para experimentar os instrumentos artesanais que as senhoras usam. (Um tais verdadeiro tem de passar por várias e lentas etapas manuais, podendo levar 3 anos até estar pronto para venda!) 






Por ser a capital da ilha, Maumere pareceu-nos ser uma cidade de serviços, um verdadeiro centro urbano (à escala das Flores). Ali tivemos oportunidade de ir ao mercado tradicional: 



E também fomos à zona marítima onde moram os pescadores maioritariamente muçulmanos, com casas construídas sobre a água:



Também nos levaram ao monte que fica a sul de Maumere para podermos ter uma vista privilegiada de toda a cidade:



Mas o ex-libris desta nossa visita à ilha das Flores foi o passeio ao Parque Natural Kelimutu. Trata-se de uma montanha de origem vulcânica que, aliás, regista ainda atividade vulcânica e no topo da qual se formaram três lagos. Os compostos químicos que formam a base dos lagos e as reações por eles geradas fazem com que a cor das águas pastosas possa alterar-se. Às vezes um dos lagos está verde, outro azul e outro rosa. Nós apanhámos um lago azul e dois verdes, mas estes lagos vulcânicos não deixam de formar uma paisagem espetacular - complementada pelo cheirinho a enxofre - qualquer que seja a sua cor. 





Em jeito de sumário, podemos dizer que a ilha das Flores cumpriu aquilo que lhe pedimos: que nos proporcionasse descanso e tranquilidade e também coisas bonitas para conhecer! Gostámos muito!