quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Aussies durante duas semanas

Viver 3 anos e 3 meses em Timor-Leste sem colocar os pés na vizinha Austrália seria o desperdício de uma grande oportunidade, certo? É que, à excepção do acesso à Indonésia por terra para visitar Timor Ocidental, a Austrália é, geograficamente, o país mais acessível a partir de Díli: a Airnorth disponibiliza voos diários para Darwin que está apenas a uma hora e meia de avião. Contudo, é mais caro viajar para Darwin do que para Bali - este sim, o destino preferido da comunidade estrangeira residente em Díli. E a verdade é que a Austrália não despertava em nós o mesmo interesse de outros destinos (a vizinha Nova Zelândia, por exemplo). Por todas estas razões, e também porque da Austrália se relatam demasiados encontros imediatos com todo o tipo de bichos assustadores, corríamos o risco de ter desperdiçado esta oportunidade. Se tal tivesse acontecido, teríamos cometido uma grande injustiça para com a Austrália. Porém, muito graças às amizades luso-australianas nascidas em Timor, aquilo que antes era uma mera oportunidade ganhou contornos de visita obrigatória.

O primeiro dia na Austrália foi passado em Darwin. Spoiler: não é uma boa amostra do país. Acabadinhos de sair de Timor-Leste, percorrer Darwin foi como chegar de repente a outro planeta. De entre as coisas que nos causaram estranheza, destacamos, claro, o problema social da (não) integração dos aborígenes. Não nos alongaremos a discorrer sobre um assunto que é demasiado complexo e que muito escapa à nossa compreensão. Direi apenas que muito nos chocou testemunhar ali a existência de dois mundos que, estando presentes no mesmo espaço, não interagem e parecem ignorar-se mutuamente. Os aborígenes de Darwin vivem num limbo: não estão integrados nem no meio urbano e ocidentalizado que a cidade oferece nem nas comunidades aborígenes tradicionais.

No demais, Darwin é uma cidade estranha: ainda sob clima tropical, não se vê muita gente na rua durante o dia, pelo que às tantas, ao caminhar pela cidade, contabilizávamos mais stands de veículos ligeiros e pesados do que pessoas. A agitação só chega ao final da tarde, quando os bares e os restaurantes da baixa atraem os trabalhadores saídos do expediente. A zona marginal é bonita e ali tivemos o primeiro encontro com uma fenómeno que merece grande realce: para além dos simpáticos cangurus e koalas, são as aranhas, as cobras, os tubarões e os crocodilos que povoam a nossa ideia da Austrália, mas os pássaros... ninguém fala dos pássaros! E são tantos e tão variados aqueles que pudemos ver de perto nas reservas ou mesmo nos parques públicos e nos quintais dos amigos que nos receberam nas suas casas!


Ainda em Darwin, visitámos o Museum and Art Gallery of Northern Territory que nos deu a conhecer a arte aborígene e um crocodilo de cinco metros de comprimento cujo nome, Sweetheart, ilustra bem o humor australiano.




No aeroporto, um dos agentes da alfândega fizera questão de nos conceder uma primeira amostra desse humor quando nos disse, num tom de espanto, que não estava à espera de nos encontrar ali naquele dia... E registámos ainda outras bizarrias que cremos serem exemplo desse humor particular, como um restaurante chamado Frying Nemo ou a comercialização de escroto de canguru como souvenir...

Em Sydney estivemos apenas algumas horas. Ficámos com a impressão de que é uma cidade agradável e a zona da marina, ladeada pela antiga ponte e pela Opera House, é de facto muito bonita. Mas podemos desde já assumir que não foi pelas cidades que nos rendemos à Austrália. Tanto Sydney como Melbourne são cidades simpáticas, com uma vibe muito moderna e uma diversidade cultural que as enriquece, mas não podem ser comparadas às grandes cidades europeias no que diz respeito à grandiosidade e quantidade das atrações turísticas. Os próprios australianos reconhecem que o seu património histórico é muito recente se o compararmos com o património que a Europa herdou de eras antiquíssimas.




Em Melbourne passámos mais tempo do que em Sydney e pudemos visitar museus, parques, bibliotecas e jardins. Para além disso, a Débora aceitou o desafio de um amigo para participar num divertido jogo de Swordcraft. Recebeu a formação para principiantes e, depois, por ali andou de espada em punho, num recinto de futebol australiano, a lutar contra cruzados, vikings e samurais...







Mas foram os subúrbios e as pequenas vilas que nos encantaram na Austrália: em New South Wales ficámos em Lorn, uma bonita localidade perto de Maitland, esta uma vila um bocadinho maior. Na Austrália parece que tudo é construído na horizontal: há abundância de espaço, pelo que as ruas são largas, as casas são espaçosas e toda a gente tem o seu quintal. Lorn é uma localidade feita de bonitas vivendas, antigas, mas sempre renovadas de modo a manterem o aspeto original singelo e muito british. 



Em Newcastle nadámos na Bar Beach: belíssima praia com direito a aviso dada a possibilidade de presença de tubarões nas águas do Mar da Tasmânia. E fomos a uma reserva natural para ver de perto animais muito giros!








Já no estado de Victoria, nas redondezas de Melbourne, ficámos hospedados com amigos em Pakenham, um subúrbio também tranquilo e agradável. E naquela região também tivemos encontros com pássaros muito giros!



Fomos também a Ballarat, uma cidade histórica a norte de Melbourne, famosa por ser a metrópole da região para a qual migraram milhares de britânicos nos anos 1850s durante a corrida ao ouro. Hoje em dia é uma cidade bonita, de tamanho médio, com um jardim botânico muito giro para passeios e piqueniques!


Uma das principais atrações turísticas do estado de Victoria é Sovereign Hill, um parque temático localizado nos arredores de Ballarat onde é recriada a típica aldeia mineira do século XIX. A visita é cara, mas vale o preço do bilhete pela quantidade e qualidade das exibições interativas e informativas que ali são disponibilizadas: produção de doces artesanais (que eram só para consumo dos adultos porque, naquele tempo, o açúcar era um bem muito caro); dramatização de um leilão de uma mulher por parte do seu marido (porque não havia divórcio e esta era a forma encontrada para oficializar uma separação); simulação de uma aula na escola primária; demonstração de como o ouro era derretido e, depois, transformado em barras de ouro; visita a uma espécie de mina; ... etc. De todas as atrações turísticas que visitámos na Austrália, esta foi aquela de que mais gostámos!









No último dia da nossa experiência como Aussies, fomos fazer praia e passear na Phillip Island, famosa, entre outras coisas, por ser palco diário de uma parada de pinguins! O custo dos bilhetes e o relógio (com um avião para apanhar nessa noite) dissuadiram-nos no que respeita a assistir a essa parada. Mas, num passeio até The Nobbies, na ponta oeste da ilha, ainda tivemos a boa fortuna de ver um pinguim meio escondido. E, já quando estávamos de abalada, vimos alguns wallabies por entre a vegetação perto da estrada. Este aqui, muito gentil, pareceu pousar para a fotografia como quem nos diz adeus, obrigado pela visita, e serão sempre bem-vindos à minha terra!