quinta-feira, 30 de julho de 2015

Escala em Kuala Lumpur

Depois de três semanas intensas e muito boas em Portugal, sempre a rever amigos, passadas entre Caldas da Rainha, Lisboa, Vila Franca de Xira e Portalegre, reservámos a quarta semana de férias para turismo na Ásia. Aproveitando a viagem longa de Lisboa a Díli, optámos pela rota Lisboa -> Istanbul -> Kuala Lumpur –> Bali -> Díli para fazer paragens mais prolongadas em Kuala Lumpur e em Bali.

Já tinha estado dois dias em Kuala Lumpur em trabalho, em Maio. Na altura não houve oportunidade para visitar os locais turísticos e históricos da cidade e ela não me despertou muito interesse. No entanto, essa primeira impressão foi enganadora. Kuala Lumpur tem os seus encantos! É uma metrópole recente (só no século XIX se desenvolveu para se tornar uma grande cidade) e relativamente pequena (2.2 milhões de habitantes) quando comparada com as mega-cidades asiáticas da China, Coreia, Índia ou Japão.

Kuala Lumpur reflete muito bem a diversidade étnica de que é formada a Malásia: o islamismo predomina e encontrámos muitas semelhanças culturais com a Indonésia (estando a Malásia mais desenvolvida e organizada); há também comunidades consideráveis de ascendência indiana e chinesa e, pelo menos a nível turístico, recebe muitos visitantes caucasianos e do médio oriente.

Do quarto do nosso hotel tínhamos vista privilegiada para as Petronas Twin Towers que já foram em tempos o maior edifício do mundo.



Hoje ostentam orgulhosamente o título de maiores twin towers do mundo... Se há coisa de que os Malaios parecem gostar particularmente é que tudo tem de estar no topo mundial de alguma maneira...

No nosso primeiro dia completo em Kuala Lumpur começámos por ver as torres mais de perto e conhecer um dos muitos Centros Comerciais da cidade, o Suria KLCC. Dizem que Kuala Lumpur é um paraíso para fazer compras. Não foi esse o objetivo da nossa visita e não podemos atestar a justiça dessa fama, mas há um aspeto que podemos realçar: o Suria KLCC tem uma bookstore, a Kinokuniya, de fazer inveja à fnac quer no que respeita aos preços (a maior parte dos produtos tem iva de 6%, mas os livros não têm iva), quer no que respeita à panóplia de livros disponíveis. (Na secção dedicada ao cristianismo encontrámos NT Wrigth, Philip Yancey, Shane Claiborne... isto num país em que 60% da população é  islâmica. Surpreendente!)

Mais tarde fomos num tour com mais 3 turistas e com o guia/condutor, o Chris, malaio de origem indiana que nos explicou, entre muitas outras coisas, que Kuala Lumpur recebe o seu nome da junção de dois rios lamacentos, o rio Kelang e o  Gombak: kuala significa estuário e lumpur significa lama. O primeiro spot ao qual o Chris nos levou foi ao Palácio Real.

Aqui o Chris mostrou-nos umas plantas estranhíssimas, as mimosas ou shy lady... Encolhem-se (literalmente) quando tocadas.

Depois, passando de carro pelo interior da Little Índia, dirigimo-nos às Batu Caves, local de templos hindus localizados em grutas num rochedo, acessíveis através de uma escadaria de 270 degraus.



Dizem tratar-se da maior estátua de Murungan do mundo (lá estão eles outra vez). Junto ao templo há também as Dark Caves, onde se pode fazer uma visita mais geológica e biológica às grutas, e que nos foram recomendadas mas que não pudemos visitar porque fecham à segunda-feira (a regra das segundas-feiras também vigora deste lado do mundo!).

Em seguida, fomos à fábrica de texteis Batik. São tecidos de seda pura pintados à mão, ou de algodão pintados com carimbos e cera de abelha, com várias técnicas que nos foram explicadas, mas que não consigo reproduzir. De qualquer forma, a seda e a arte tornaram os Batik pouco acessíveis às nossas carteiras.



Para terminar, fomos à Royal Selangor Visitor Centre: aqui mostram como são feitas peças usando pewter, uma liga de cobre, estanho e antimónio. A Malásia é rica em minérios! Mesmo tendo já capacidade para concorrer com outros países asiáticos no que respeita à eletrónica, a exploração mineira continua a ser um dos motores da economia, ao lado do precioso óleo de palma.
Aqui também pudemos tirar uma fotografia com a maior caneca de pewter do mundo!



Ficámos a saber que os óscares são feitos de pewter, cobertos depois com ouro.

Assim se passou o primeiro dia!

No dia seguinte apanhámos o metro para a Merdeka Square, aka Praça da Independência. É a zona histórica da cidade onde estão localizados muitos dos principais edifícios históricos.




 A seguir queríamos entrar na zona verde da cidade e o mapa mostrava um percurso que implicava atravessar a pé uma auto-estrada! Mas calma, mãe! Encontrámos alternativa e lá entrámos nesse belo parque de Kuala Lumpur. O objetivo número 1 era cumprir o sonho de criança da Débora: ir ao Parque das Borboletas. Depois de muito andar e suar (ao fim de um bocado o suor a escorrer já podia cantar aquela velhinha dos Delfins ‘sou como um rio...’) chegámos ao destino. A Débora cumpriu o seu sonho (e ainda pôde testar o novo adaptador ‘macro’ que adquiriu para a sua Nikon).




O Parque dos Pássaros é mais famoso que o das borboletas (adivinhem: é o maior do mundo!) mas, pesando o tempo disponível e o interesse que ele nos despertava comparando com outros spots, optámos por não o visitar. Apenas almoçámos lá ao pé no Hornbill Restaurant que vinha assinalado no mapa como um spot obrigatório e que, contrariamente ao nosso palpite inicial, não é caro! Foi um oásis de ar condicionado no meio do parque que escaldava sob o sol tropical e a limonada típica da Malásia, feita de limas muito pequeninas, refrescou até ao osso!

Seguiu-se o Jardim das Orquídeas e dos Hibiscos. Deixo, mais uma vez, as fotografias falarem por mim.



A sul do Parque mora o Museu de Arte Islâmica da Malásia: merece a paragem! Talvez tenha sido o local que mais gostámos de visitar em Kuala Lumpur. Contém maquetes das mais majestosas ou extravagantes mesquitas existentes no Médio Oriente, no Extremo Oriente, na Europa e em África (edifícios lindíssimos), cópias transcritas do Alcorão com exemplos dos vários estilos de caligrafia usados, exemplares de vestuário, jóias, louças, armas dos povos árabes, etc. A arquitetura do próprio museu é singular e bela aos olhos destes dois ocidentais que se deixam encantar pelas abóbadas árabes, os seus ornamentos e cores. (Fiquei particularmente fascinado por uma Mesquita do Usbequistão e porreiro era ir lá ver o edifício ao vivo, mas voar para aqueles lados é dispendioso, caneco!)




Enquanto olhava para tudo isto, ao mesmo tempo que via passar mulheres vestidas dos pés à cabeça com a niqab, a Débora perguntava-se como é que uma cultura colorida e tão ornamentada desaguou em vestes pretas e austeras. De certa forma, talvez seja um alerta para usarmos o mesmo tipo de olhar para analisar a nossa história e cultura.


Não entrámos na Mesquita Nacional, situada junto ao Museu, porque havia fila para vestir a obrigatória túnica roxa (mais parecia o traje de um monge católico da idade das trevas!) e não nos apeteceu esperar. Seguimos caminho: para a Chinatown.


Ali tomámos uma bebida fresca numa antiga Casa de Chá chinesa.


A Chinatown foi uma meia desilusão: é engraçado passear por ruas em que os letreiros estão todos em cantonês; parece que estamos num filme. Mas a Jalan Petaling, principal rua comercial da Chinatown, parece a feira de segunda-feira das Caldas da Rainha. Já pouco tem de tradicional e nós não estávamos interessados em artigos contrafeitos.

Desembocámos na Clock Tower Square onde ainda se encontram casas de arquitetura europeia (mostrando a influência holandesa e, claro, a influência inglesa) e, claro, uma torre de relógio.


Estando já longa a jornada, apanhámos o metro de volta para o hotel onde ainda houve tempo para descontrair na piscina antes de fazer as malas para viajar muito cedo na manhã seguinte. Kuala Lumpur é uma cidade interessante e merecia mais um dia ou dois de exploração, mas Bali esperava-nos!