quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A complexidade do desenvolvimento de Timor-Leste


Na semana passada tivemos a oportunidade de assistir a algumas palestras e discussões sobre 'Pobreza e Desenvolvimento Económico em Timor-Leste' com a participação de pessoal de diferentes contextos: técnicos do Ministério das Finanças, professores universitários australianos que fazem pesquisa nestas matérias, pessoal de ONGs e do Banco Mundial. Tudo gente que tem analisado este assunto e que tem contributos a dar para a discussão. Alguns deles têm mesmo intervenção directa nas medidas que vão sendo tomadas na governação desta nação ainda adolescente.

Foi uma oportunidade para adquirirmos uma noção mais profunda dos desafios que Timor-Leste enfrenta actualmente. Ao mesmo tempo serviu para percebermos que esses desafios são extremamente complexos. É fácil identificar as necessidades de um país onde a quantidade e a qualidade das infra-estruturas e o nível de vida das pessoas são ainda muito precários. Mas é muito difícil identificar caminhos seguros, estratégias e prioridades para responder a essas necessidades. 

Pelos vistos, para abordar um problema económico há sempre perspectivas distintas e, por vezes, contraditórias. Temo que frequentemente essas perspectivas resultem mais de uma ideologia pré-concebida do que daquilo que a realidade nos conta. Depois, essas perspectivas chocam umas com as outras tornando turva a própria realidade. Por exemplo, o investimento sério no sector agrícola de Timor-Leste tem sido adiado pelo governo, dando-se prioridade a outros sectores. Alguns intervenientes nas palestras tentaram confrontar os técnicos do Ministério das Finanças com a possibilidade de financiar o aumento das produções agrícolas argumentando que a sociedade iria recolher benefícios desse investimento: as famílias que vivem no meio rural iriam estar melhor nutridas, com mais capacidade de trabalho e iriam aumentar os seus rendimentos podendo, eventualmente, investir em instrumentos agrícolas para dar continuidade ao aumento de produção. Apresentaram-se números e estimativas. Mas do lado do Ministério contra-argumentou-se: este não seria um investimento seguro porque a tendência cultural é que as pessoas gastem uma enorme fatia dos seus rendimentos em cerimónias tradicionais (casamentos, funerais e outros rituais), pelo que um investimento destes corria o risco de favorecer essa tendência cultural em vez de contribuir para o desenvolvimento do país. Ficamos sem perceber se este contra-argumento é uma desculpa inválida ou se corresponde a uma análise credível da sociedade timorense. Cá está a realidade a tornar-se turva...

O que é certo é que 12 anos após a independência oficial, Timor-Leste continua a enfrentar grandes desafios para fazer chegar a todos a nutrição adequada, a saúde, o saneamento e a educação de qualidade. Nestes sectores, tal como no que diz respeito a outras infra-estruturas (nomeadamente a construção de estradas), penso que terá de ser o estado a investir. Mas também é certo que, simultaneamente, Timor-Leste precisa de atrair investimentos do sector privado para garantir empregos para os milhares de jovens que vão sendo formados nas mais diversas áreas. A agricultura, o turismo e eventuais indústrias podem no futuro ser o motor deste país. E oxalá tudo seja feito de forma sustentável para que os recursos e a beleza natural sejam preservados.

Como desenvolver Timor-Leste? É muito complexo. Eu pensava que a Matemática Pura era o campo onde tinha encontrado os problemas mais complexos, mas estava enganado. No caso do desenvolvimento de Timor-Leste o problema não é só mais complexo, é também mais profundo porque afeta vidas. Os teoremas não se traduzem (pelo menos de forma tão imediata) em efeitos nas vidas das pessoas. Mas espera-se que a estratégia de desenvolvimento tenha efeitos e que esses sejam positivos e alcancem toda a sociedade.

Quando falamos em desenvolvimento, falamos, portanto, de vidas, de pessoas. Não são números e estatísticas. Oramos para que os responsáveis pelo destino deste país tenham essa consciência e que exerçam a sua função com espírito de missão e sentindo a responsabilidade pelas vidas que são afectadas pelas suas decisões. O poder seduz e por todo o mundo há líderes que se deixam corromper por essa sedução. Ainda é tempo útil para que não seja assim em Timor-Leste.


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