O primeiro dia na Austrália foi passado em Darwin. Spoiler: não é uma boa amostra do país. Acabadinhos de sair de Timor-Leste, percorrer Darwin foi como chegar de repente a outro planeta. De entre as coisas que nos causaram estranheza, destacamos, claro, o problema social da (não) integração dos aborígenes. Não nos alongaremos a discorrer sobre um assunto que é demasiado complexo e que muito escapa à nossa compreensão. Direi apenas que muito nos chocou testemunhar ali a existência de dois mundos que, estando presentes no mesmo espaço, não interagem e parecem ignorar-se mutuamente. Os aborígenes de Darwin vivem num limbo: não estão integrados nem no meio urbano e ocidentalizado que a cidade oferece nem nas comunidades aborígenes tradicionais.
No demais, Darwin é uma cidade estranha: ainda sob clima tropical, não se vê muita gente na rua durante o dia, pelo que às tantas, ao caminhar pela cidade, contabilizávamos mais stands de veículos ligeiros e pesados do que pessoas. A agitação só chega ao final da tarde, quando os bares e os restaurantes da baixa atraem os trabalhadores saídos do expediente. A zona marginal é bonita e ali tivemos o primeiro encontro com uma fenómeno que merece grande realce: para além dos simpáticos cangurus e koalas, são as aranhas, as cobras, os tubarões e os crocodilos que povoam a nossa ideia da Austrália, mas os pássaros... ninguém fala dos pássaros! E são tantos e tão variados aqueles que pudemos ver de perto nas reservas ou mesmo nos parques públicos e nos quintais dos amigos que nos receberam nas suas casas!
No aeroporto, um dos agentes da alfândega fizera questão de nos conceder uma primeira amostra desse humor quando nos disse, num tom de espanto, que não estava à espera de nos encontrar ali naquele dia... E registámos ainda outras bizarrias que cremos serem exemplo desse humor particular, como um restaurante chamado Frying Nemo ou a comercialização de escroto de canguru como souvenir...
Em Sydney estivemos apenas algumas horas. Ficámos com a impressão de que é uma cidade agradável e a zona da marina, ladeada pela antiga ponte e pela Opera House, é de facto muito bonita. Mas podemos desde já assumir que não foi pelas cidades que nos rendemos à Austrália. Tanto Sydney como Melbourne são cidades simpáticas, com uma vibe muito moderna e uma diversidade cultural que as enriquece, mas não podem ser comparadas às grandes cidades europeias no que diz respeito à grandiosidade e quantidade das atrações turísticas. Os próprios australianos reconhecem que o seu património histórico é muito recente se o compararmos com o património que a Europa herdou de eras antiquíssimas.
Em Melbourne passámos mais tempo do que em Sydney e pudemos visitar museus, parques, bibliotecas e jardins. Para além disso, a Débora aceitou o desafio de um amigo para participar num divertido jogo de Swordcraft. Recebeu a formação para principiantes e, depois, por ali andou de espada em punho, num recinto de futebol australiano, a lutar contra cruzados, vikings e samurais...
Mas foram os subúrbios e as pequenas vilas que nos encantaram na Austrália: em New South Wales ficámos em Lorn, uma bonita localidade perto de Maitland, esta uma vila um bocadinho maior. Na Austrália parece que tudo é construído na horizontal: há abundância de espaço, pelo que as ruas são largas, as casas são espaçosas e toda a gente tem o seu quintal. Lorn é uma localidade feita de bonitas vivendas, antigas, mas sempre renovadas de modo a manterem o aspeto original singelo e muito british.
Em Newcastle nadámos na Bar Beach: belíssima praia com direito a aviso dada a possibilidade de presença de tubarões nas águas do Mar da Tasmânia. E fomos a uma reserva natural para ver de perto animais muito giros!
Uma das principais atrações turísticas do estado de Victoria é Sovereign Hill, um parque temático localizado nos arredores de Ballarat onde é recriada a típica aldeia mineira do século XIX. A visita é cara, mas vale o preço do bilhete pela quantidade e qualidade das exibições interativas e informativas que ali são disponibilizadas: produção de doces artesanais (que eram só para consumo dos adultos porque, naquele tempo, o açúcar era um bem muito caro); dramatização de um leilão de uma mulher por parte do seu marido (porque não havia divórcio e esta era a forma encontrada para oficializar uma separação); simulação de uma aula na escola primária; demonstração de como o ouro era derretido e, depois, transformado em barras de ouro; visita a uma espécie de mina; ... etc. De todas as atrações turísticas que visitámos na Austrália, esta foi aquela de que mais gostámos!
No último dia da nossa experiência como Aussies, fomos fazer praia e passear na Phillip Island, famosa, entre outras coisas, por ser palco diário de uma parada de pinguins! O custo dos bilhetes e o relógio (com um avião para apanhar nessa noite) dissuadiram-nos no que respeita a assistir a essa parada. Mas, num passeio até The Nobbies, na ponta oeste da ilha, ainda tivemos a boa fortuna de ver um pinguim meio escondido. E, já quando estávamos de abalada, vimos alguns wallabies por entre a vegetação perto da estrada. Este aqui, muito gentil, pareceu pousar para a fotografia como quem nos diz adeus, obrigado pela visita, e serão sempre bem-vindos à minha terra!
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