Esta
viagem era há muito aguardada e planeada com grande expectativa. O município de
Lautém, a sua capital Lospalos e, especialmente, o ilhéu de Jaco são destinos
famosos entre os malae e que estavam
no topo das nossas prioridades turísticas desde a nossa vinda para Timor.
A
Débora, em especial, desenvolveu um certo fascínio pelo povo deste município,
que parece ter algumas peculiaridades culturais que não se encontram no resto
do país, e pelo fataluko, o dialeto que ali se fala.
O
ilhéu de Jaco é um paraíso rodeado por águas cristalinas. Tem uma boa extensão
de praia paradísiaca com areia branca e um mar onde podemos nadar em conjunto
com centenas de peixinhos de todas as cores. Talvez seja um dos locais mais
bonitos do mundo!
E qual é a diferença entre esta praia paradisíaca e as imagens dos folhetos das agencias de viagens? Toda! Exactamente porque esta não aparece nos folhetos.
E qual é a diferença entre esta praia paradisíaca e as imagens dos folhetos das agencias de viagens? Toda! Exactamente porque esta não aparece nos folhetos.
Na
sexta-feira santa lá fomos. Um grupo de 6 aventureiros, num jipe alugado,
devidamente apetrechados com comes-e-bebes e com o sr. Ameu a conduzir, um
motorista já com experiência no percurso Dili-Jaco.
Às
7h30 já estávamos na estrada preparados para a longa viagem. São pelo menos 6
horas de caminho desde Díli até à Praia de Valu, em frente ao ilhéu de Jaco,
sendo que os últimos 7 ou 8 kms são particularmente penosos porque a estrada
está em péssimas condições, e os últimos 3 km são umas inacreditáveis escadas impossíveis de ultrapassar com um tipo de transporte mais ligeiro.
Mas
aqui a viagem faz também parte da aventura, da aprendizagem, da exploração.
Fomos lentamente percorrendo as vilas e aldeias de Díli até Com sendo
necessário abrandar muitas vezes para dar prioridade aos fieis católicos que,
um pouco por todo o lado, organizaram pequenas procissões em jeito de reconstituição da via sacra percorrida por
Jesus, o Cristo, há 2000 anos.
Já
depois de acabar com o farnel ali para os lados de Laga, chegámos a Com pelas
15h00. Segundo o plano inicial, iríamos fazer ali uma paragem para mergulhar na
famosa praia da vila. No entanto, o relógio já ia avançado e a chuva também
espreitava. O mergulho em Com ficará para outra altura (também por ali há umas
guesthouses promissoras e uma tranquilidade agradável que convidam a uma nova
visita). Continuámos então a caminho da ponta mais a leste de Timor-Leste
(passe o pleonasmo). Talvez calhe bem explicar que, apesar de ser um pequeno
país, Timor-Leste também se divide na parte leste e oeste, ou, como se diz em
Tetum, lorosae (nascer do sol) e loromono (pôr-do-sol). Inclusivamente
houve, no passado, e oramos para que tenha sido só no passado, quezílias e
rivalidade profunda entre as pessoas de lorosae
e as pessoas de loromono.
Bom,
lá saímos de Com em direção a Tutuala através de uma estrada secundária mas
mais direta. Chegámos a Tutuala pelas 16 horas. Tutuala é uma pequena vila e um
dos locais mais recônditos da ilha de Timor (se bem que há locais mais perto de
Díli cujo acesso é bem mais difícil).
Fomos
até à Pousada de Tutuala, uma de várias pousadas que sobreviveram desde o tempo
colonial e que vão lentamente sendo recuperadas para fins turísticos. A Pousada
tem localização privilegiada no topo do promontório no qual termina
abruptamente a estrada que chega à vila. A partir dali não há estrada. Há só
mar: a norte o mar de Banda, a sul o mar de Timor.
Parámos
para fotografias, mas foi uma paragem curta: ainda faltavam os tais 7 ou 8 km
de descida até à praia de Valu e queríamos fazê-los ainda com boa luz solar.
Junto
há praia de Valu há dois locais para pernoitar. Ficámos alojados na Lakumorre
Guesthouse. Banho de gayon. Boa comida. Colchão no chão mas com rede mosquiteira. Condição
razoável para a realidade de Timor.
Naquela
tarde, já perto das 18 horas, ainda deu para um mergulho na praia de Valu,
também ela uma bonita praia. Depois houve tempo para jogo de cartas e para o
Sequence.
No
dia seguinte foi o dia de visitar Jaco! Acordámos cedo, tomámos o mata-bicho e
fomos até à zona dos pescadores para embarcar para Jaco num dos seus barquinhos.
O
dia passado em Jaco foi, claro, a melhor praia que alguma vez fizemos. Fazer
praia ali é maravilhoso. O snorkeling foi fantástico, mesmo tendo de
improvisar, nadar só com um braço e segurar os óculos com a outra mão, porque o
equipamento partiu-se de forma estranha. Pena é não termos levado uma daquelas
máquinas descartáveis que permitem fotografar debaixo de água como levámos às
Berlengas.
Jaco
pode ser visitado nesta modalidade em que nós fomos (com boleia dos pescadores)
mas para os timorenses é uma ilha sagrada, por isso não se pode lá dormir, nem
se pode construir nada.
Às
16 horas os pescadores foram buscar-nos para regressarmos à praia de Valu. No
resto do dia ficámos na nossa guesthouse a passar o tempo com jogos, guitarra e
converseta.
No dia seguinte levantámo-nos cedo com o objetivo de ir visitar ili-kere-kere, um local de grutas e abrigos criados pelas escarpas daquela espécie de promontório de Tutuala. Este local é duplamente importante: foi descoberta ali arte rupestre datada de 3000 a 2000 anos e foi também lugar de refúgio para os guerrilheiros da resistência timorense durante a ocupação indonésia.
Disseram-nos
que as grutas de ili-kere-kere
ficavam ‘logo ali, muito perto’. Mas quando um timorense diz que alguma coisa
fica perto ou demora pouco, temos de multiplicar essa informação por dois ou
por três para obter uma estimativa realista. Então andámos e andámos no meio da
selva timorense até chegarmos a ili-kere-kere já a suar em bica. Valeu a pena!
Não só pelas imagens rupestres gravadas nas rochas, mas também pela espetacular
paisagem marítima que ali podemos vislumbrar. Aquelas escarpas são também
habitat de milhares e milhares de abelhas, por isso fomos avisados para falar
muito baixinho e não causar qualquer alvoroço que pudesse revoltar as abelhas.
Assim fizemos, claro! Uma coisa é ter coragem para nadar nas águas de Jaco
mesmo que de vez em quando já tenham sido ali avistados crocodilos. Outra coisa
é metermo-nos com abelhas. Somos malucos, mas não tanto!
De ili-kere-kere partimos para a vila de
Lospalos. Pelo caminho parámos para fotografar as casas sagradas típicas de
Lospalos. Têm um significado muito forte para a religião tradicional animista
dos locais e são construídas duas a duas, sendo uma considerada masculina (mane) e outra feminina (feto), e não sendo utilizados quaisquer pregos na sua construção. É uma espécie de puzzle complexo cujo segredo não está acessível a todos.
Lospalos
é a capital do município de Lautém e o único meio urbano naquela ponta do
território. Parámos na casa do professor Cancio, um dos aventureiros. Mostraram
hospitalidade servindo-nos bebidas frescas e um petisco de carne muito
saboroso.
Ainda
demos uma volta de carro por Lospalos para sentir o pulso à cidade. Uma cidade
tranquila, longe do bulício e da desorganização que por vezes impera em Díli. E
entretanto faziam-se horas de começar a longa viagem de regresso a Díli. Mais 6
horas de caminho, com uma paragem em Laga para comer um peixinho grelhado no
restaurante de beira da estrada gerido pelo professor Laurentino que, ficámos a saber,
é também um empreendedor.
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