Depois de três semanas intensas e muito boas em Portugal,
sempre a rever amigos, passadas entre Caldas da Rainha, Lisboa, Vila Franca de
Xira e Portalegre, reservámos a quarta semana de férias para turismo na Ásia.
Aproveitando a viagem longa de Lisboa a Díli, optámos pela rota Lisboa ->
Istanbul -> Kuala Lumpur –> Bali -> Díli para fazer paragens mais
prolongadas em Kuala Lumpur e em Bali.
Já tinha estado dois dias em Kuala Lumpur em trabalho, em
Maio. Na altura não houve oportunidade para visitar os locais turísticos e
históricos da cidade e ela não me despertou muito interesse. No entanto, essa
primeira impressão foi enganadora. Kuala Lumpur tem os seus encantos! É uma
metrópole recente (só no século XIX se desenvolveu para se tornar uma grande
cidade) e relativamente pequena (2.2 milhões de habitantes) quando comparada
com as mega-cidades asiáticas da China, Coreia, Índia ou Japão.
Kuala Lumpur reflete muito bem a diversidade étnica de que é
formada a Malásia: o islamismo predomina e encontrámos muitas semelhanças
culturais com a Indonésia (estando a Malásia mais desenvolvida e organizada);
há também comunidades consideráveis de ascendência indiana e chinesa e, pelo
menos a nível turístico, recebe muitos visitantes caucasianos e do médio
oriente.
Do quarto do nosso hotel tínhamos vista privilegiada para as
Petronas Twin Towers que já foram em tempos o maior edifício do mundo.
Hoje ostentam orgulhosamente o título de maiores twin towers
do mundo... Se há coisa de que os Malaios parecem gostar particularmente é que
tudo tem de estar no topo mundial de alguma maneira...
No nosso primeiro dia completo em Kuala Lumpur começámos por
ver as torres mais de perto e conhecer um dos muitos Centros Comerciais da
cidade, o Suria KLCC. Dizem que Kuala Lumpur é um paraíso para fazer compras. Não
foi esse o objetivo da nossa visita e não podemos atestar a justiça dessa fama,
mas há um aspeto que podemos realçar: o Suria KLCC tem uma bookstore, a Kinokuniya,
de fazer inveja à fnac quer no que respeita aos preços (a maior parte dos
produtos tem iva de 6%, mas os livros não têm iva), quer no que respeita à
panóplia de livros disponíveis. (Na secção dedicada ao cristianismo encontrámos
NT Wrigth, Philip Yancey, Shane Claiborne... isto num país em que 60% da
população é islâmica. Surpreendente!)
Mais tarde fomos num tour com mais 3 turistas e com o
guia/condutor, o Chris, malaio de origem indiana que nos explicou, entre muitas
outras coisas, que Kuala Lumpur recebe o seu nome da junção de dois rios
lamacentos, o rio Kelang e o Gombak: kuala
significa estuário e lumpur significa lama. O primeiro spot ao qual o Chris nos
levou foi ao Palácio Real.
Aqui o Chris mostrou-nos umas plantas estranhíssimas, as
mimosas ou shy lady... Encolhem-se (literalmente) quando tocadas.
Depois, passando de carro pelo interior da Little Índia,
dirigimo-nos às Batu Caves, local de templos hindus localizados em grutas num
rochedo, acessíveis através de uma escadaria de 270 degraus.
Dizem tratar-se da maior estátua de Murungan do mundo (lá estão
eles outra vez). Junto ao templo há também as Dark Caves, onde se pode fazer uma visita mais geológica e biológica às grutas, e que nos foram
recomendadas mas que não pudemos visitar porque fecham à segunda-feira (a regra
das segundas-feiras também vigora deste lado do mundo!).
Em seguida, fomos à fábrica de texteis Batik. São tecidos de
seda pura pintados à mão, ou de algodão pintados com carimbos e cera de abelha,
com várias técnicas que nos foram explicadas, mas que não consigo reproduzir.
De qualquer forma, a seda e a arte tornaram os Batik pouco acessíveis às nossas
carteiras.
Para terminar, fomos à Royal Selangor Visitor Centre: aqui
mostram como são feitas peças usando pewter, uma liga de cobre, estanho e
antimónio. A Malásia é rica em minérios! Mesmo tendo já capacidade para
concorrer com outros países asiáticos no que respeita à eletrónica, a
exploração mineira continua a ser um dos motores da economia, ao lado do
precioso óleo de palma.
Aqui também pudemos tirar uma fotografia com a maior caneca de pewter do mundo!
Ficámos a saber que os óscares são feitos de pewter,
cobertos depois com ouro.
Assim se passou o primeiro dia!
No dia seguinte apanhámos o metro para a Merdeka Square, aka
Praça da Independência. É a zona histórica da cidade onde estão localizados muitos
dos principais edifícios históricos.
O Parque dos Pássaros é mais famoso que o das borboletas
(adivinhem: é o maior do mundo!) mas, pesando o tempo disponível e o interesse
que ele nos despertava comparando com outros spots, optámos por não o visitar.
Apenas almoçámos lá ao pé no Hornbill Restaurant que vinha assinalado no mapa
como um spot obrigatório e que, contrariamente ao nosso palpite inicial, não é
caro! Foi um oásis de ar condicionado no meio do parque que escaldava sob o sol
tropical e a limonada típica da Malásia, feita de limas muito pequeninas,
refrescou até ao osso!
Seguiu-se o Jardim das Orquídeas e dos Hibiscos. Deixo, mais
uma vez, as fotografias falarem por mim.
A sul do Parque mora o Museu de Arte Islâmica da Malásia:
merece a paragem! Talvez tenha sido o local que mais gostámos de visitar em
Kuala Lumpur. Contém maquetes das mais majestosas ou extravagantes mesquitas
existentes no Médio Oriente, no Extremo Oriente, na Europa e em África
(edifícios lindíssimos), cópias transcritas do Alcorão com exemplos dos vários
estilos de caligrafia usados, exemplares de vestuário, jóias, louças, armas dos
povos árabes, etc. A arquitetura do próprio museu é singular e bela aos olhos
destes dois ocidentais que se deixam encantar pelas abóbadas árabes, os seus
ornamentos e cores. (Fiquei particularmente fascinado por uma Mesquita do
Usbequistão e porreiro era ir lá ver o edifício ao vivo, mas voar para aqueles
lados é dispendioso, caneco!)
Enquanto olhava para tudo isto, ao mesmo tempo que via
passar mulheres vestidas dos pés à cabeça com a niqab, a Débora perguntava-se como é que uma cultura colorida e tão
ornamentada desaguou em vestes pretas e austeras. De certa forma, talvez seja um
alerta para usarmos o mesmo tipo de olhar para analisar a nossa história e
cultura.
Não entrámos na Mesquita Nacional, situada junto ao Museu,
porque havia fila para vestir a obrigatória túnica roxa (mais parecia o traje
de um monge católico da idade das trevas!) e não nos apeteceu esperar. Seguimos
caminho: para a Chinatown.
Ali tomámos uma bebida fresca numa antiga Casa de Chá
chinesa.
A Chinatown foi uma meia desilusão: é engraçado passear por
ruas em que os letreiros estão todos em cantonês; parece que estamos num filme.
Mas a Jalan Petaling, principal rua comercial da Chinatown, parece a feira de
segunda-feira das Caldas da Rainha. Já pouco tem de tradicional e nós não
estávamos interessados em artigos contrafeitos.
Desembocámos na Clock Tower Square onde ainda se encontram casas
de arquitetura europeia (mostrando a influência holandesa e, claro, a
influência inglesa) e, claro, uma torre de relógio.
Estando já longa a jornada, apanhámos o metro de volta para o hotel onde ainda houve tempo para descontrair na piscina antes de fazer as malas para viajar muito cedo na manhã seguinte. Kuala Lumpur é uma cidade interessante e merecia mais um dia ou dois de exploração, mas Bali esperava-nos!
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