quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Guerra não é só Números

Quando lemos livros de História acerca de Timor, é natural que grande parte das letras sejam gastas a falar de conflitos. Os liurais e os generais portugueses, a Segunda Guerra Mundial e os bombardeamentos japoneses e australianos, a invasão indonésia e as lutas nas montanhas. E tudo se reduz a números: datas e mortos.
A História e as histórias mudam um pouco, no entanto, quando contadas na primeira pessoa. É diferente ouvir sobre os conflitos nas montanhas com um copo de vinho, numa noite fresca, numa varanda com vista para o mar. Ou ouvir de rituais antigos durante um ritual na noite estrelada e escura da floresta. Ou da invasão, a caminho de uma nova aventura no Ramelau. As histórias ganham outra forma. Já não são só números.
"Termos sobrevivido naquele dia foi um milagre, mesmo. Só pode ter sido!"
Ou quando, no meio da história, falam sobre a trivialidade da vida em tempo de guerra. Até piadas contam. Ou quando explicam o que sentiram.
"Houve um dia em que estávamos todos de joelhos com armas apontadas à cabeça. Lembro-me bem, mas não me lembro de sentir pânico. Tudo acontecia... em slow motion. Não parecia real!"
E termina:
"Mas, enfim... são experiências! Não digo más experiências. Experiências. É só."
A guerra contada na primeira pessoa não são só números. São sorrisos descontraídos de quem passou por coisas inimagináveis mas fala delas mostrando toda a resiliência que o Ser Humano carrega em si.
São vidas.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Páscoa em Tibar

Este post já vem um pouco atrasado, mas queremos só partilhar as fotos que tirámos no nosso fim-de-semana de Páscoa na Baía de Tibar. Precisámos de uma pausa e aproveitámos esse fim-de-semana. Lemos, conversámos, passeámos... Aquelas coisas de namorados!
O sítio é lindo! Mesmo às portas de Díli. Ficámos hospedados no Tibar Beach Retreat, onde tudo está pensado para o descanso. Imaginem uma cama com vista para isto! Levantar a cabeça e ver esta baía. Dormir numa casinha de madeira simpática e bem decorada.
A voltar, com certeza!




domingo, 19 de abril de 2015

O Templo Hindu de Díli

Ontem à noite vimos um convite aberto no Facebook para visitar o Templo Hindu de Díli. “Mas Díli tem um templo hindu?” Parece que sim!
Tínhamos combinado tirar a manhã para a ronha, mas também não somos pessoas de recusar pequenas aventuras e, por isso, levantámo-nos às 6h30. Às 7h30 estávamos no Hotel Timor para começar a caminhada até Taibessi, o bairro onde fica um mercado muito conhecido, casas com grandes jardins, a escola portuguesa e... o templo. O templo fica no cimo de uma colina, com vista para a cidade. Chegados ao templo, já a destilar, fomos recebidos pelo Mr. Krishnan.






Ele explicou-nos quando o templo tinha sido construído e que o hinduísmo, como religião imensa que é, não é igual em todos os países e, por isso, naquele templo podíamos ver artefactos tradicionais da Malásia e outros de Bali. Explicou-nos que nas cerimónias a oração é feita oferecendo algum tipo de alimentos aos deuses (no caso de hoje, bananas). Depois, é comido pelos participantes na cerimónia. “Para as pessoas religiosas é um acto sagrado. Para as outras, é a razão para ir ao templo.” – explicou. Podíamos ter-lhe dito que as comunidades cristãs têm o mesmo problema desde o início, a julgar pela primeira carta de Paulo aos Coríntios...


Ouvimos a intrincada explicação de como o hinduismo seria, em última instância, uma religião monoteísta. Mas o próprio Mr. Krishnan referiu que, na prática esse, facto está muito longe da realidade. Ouvimos outras histórias mirabolantes sobre deuses que restauram e destroem o mundo, que perseguem mulheres bonitas ou que cortam cabeças uns aos outros com os seus sete braços, e aprendemos que essas histórias não são crenças literais do hinduismo, mas antes, servem para explicar aos seguidores realidades espirituais difíceis de entender aos mais simples. Uma espécie de parábola hindu, vá.

Falou também um pouco sobre o sistema de castas, da ideia inicial, e de como os mais poderosos conseguiram transformar o sistema até ao ponto em que está hoje, em que é um sistema de opressão e negócio que maltrata milhões de pessoas. Também falou um pouco sobre o karma. Só se esqueceu de mencionar que... “she travels outside of karma.” (Grace – U2)




No cimo da colina, mesmo ao lado do templo, há também uma igreja cristã em construção. Normalmente as igrejas têm bonitos e espantosos ornamentos. Às vezes impressionantes! Esses ornamentos pretendem fazer com que as pessoas pensem em Deus e na sua beleza e grandiosidade, não é? Mas quando se tem uma igreja no cimo de uma colina, as paredes transformam-se em janelas e os ornamentos são a própria criação.