Lembro-me do dia 2 de Outubro de 2014 e das lágrimas que rolavam cara abaixo quando, de mãos dadas, percorríamos os corredores do aeroporto de Lisboa em direção ao ponto de controlo de segurança, já depois de termos entrado na zona exclusiva para passageiros e termos dado o último adeus à família e aos amigos que se despediram de nós no aeroporto.
Tínhamos desejado e sonhado viver uma temporada em Timor-Leste e, agora, o desejo estava a materializar-se. Ao mesmo tempo, adensava-se a consciência da distância à família e à vida que tínhamos conhecido até então. Naqueles corredores do aeroporto, o nosso coração fez-se muito pequenino, pressionado pela ansiedade e pela incerteza, à medida em que avançávamos em direção ao desconhecido.
Agora, passados três anos e mais quase três meses, chega ao fim a nossa temporada timorense. E tal como aconteceu na viagem que primeiro aqui nos trouxe, também agora são as lágrimas que pautam os vários momentos de despedida que nos são oferecidos. Porque também agora surge a consciência de que, mais uma vez, deixaremos para trás família. Sim, aqui conhecemos mauns e manas que se tornaram irmãos e irmãs.
Ao longo destes três anos deparámo-nos com muitas situações que provocaram mais lágrimas. Frustrações, injustiças, histórias comoventes de sofrimento e resiliência... Por vezes chorar foi a forma encontrada para conseguirmos encaixar a realidade e trazê-la connosco no coração. Naquele coração que se fez pequenino nos corredores do aeroporto de Lisboa, mas que depois teve de se alargar e esticar (às vezes com dor) para que lá coubesse tudo aquilo que aqui vivemos.
E mesmo que a emoção leve a melhor e sejam as lágrimas a marcar alguns momentos aqui passados, e também a entrada e a saída neste país do sol nascente, são muito mais os sorrisos que vão perdurar na memória. Os sorrisos quentes, hospitaleiros e francos dos amigos timorenses.
Dizia-me a Débora recentemente que Timor me fez sorrir de forma diferente, mais aberta, mais escancarada. Que talvez Timor tenha provocado algumas benditas brechas na minha natureza tímida e fechada. Não me tinha apercebido de tal fenómeno até ela o identificar. E, mesmo não estando ainda certo de que ela tenha razão, oro para que assim seja! Que de Timor eu leve as emoções, um coração alargado e, se necessário, uma ou outra lágrima. Mas que leve também comigo essa boa disponibilidade para ser mais caloroso, mais pronto a abraçar o próximo, mais corajoso na hora de sorrir diante do desconhecido.