Assim, sair de Díli é não só aceder a um outro Timor, talvez mais rústico e genuíno e também mais pobre e mais distante de tudo aquilo que consideramos os serviços básicos no mundo desenvolvido (saúde, eletricidade, saneamento, etc), mas é também aceder a regiões onde ainda reina uma saudável e contrastante tranquilidade.
A visita a Laclubar já tinha sido planeada em meados do ano passado, pouco depois de termos tido conhecimento da existência da Hospedaria São João de Deus. Mas quando, em Maio de 2016, tentámos reservar quarto na Hospedaria já ela estava esgotada para o fim de semana grande em que se celebrou o aniversário da restauração da independência de Timor-Leste. Tivemos então de optar por uma ida até Com, na ponta leste do país.
Desta vez reservámos quarto com mais antecedência se bem que isso até teria sido dispensável tendo em conta que, talvez por causa das chuvas, só nos cruzámos com mais dois hóspedes. De qualquer forma, fizemos a nossa reserva assim que soubemos que seria feriado na sexta-feira 3 de Março, cheios de vontade de experimentar a paz e o clima mais frio de Laclubar.
Não ficámos desiludidos! Em Laclubar encontrámos a Hospedaria São João de Deus que é muito mais do que uma hospedaria. Na verdade, o principal trabalho que a Ordem Hospitaleira de São João de Deus ali é a gestão de uma Casa de Saúde dedicada à recuperação de pacientes com problemas psicológicos e mentais. O frade português responsável pela coordenação das atividades de saúde e também o responsável pela gestão da hospedaria que funciona, duplamente, como uma forma de angariar receitas para a Casa de Saúde e como um espaço que visa proporcionar retiro e descanso aos hóspedes, atraindo sobretudo estrangeiros residentes em Díli.
E, de facto, retiro e descanso foi o que ali desfrutámos. Connosco levámos livros de Henri Nouwen e Sarah Withrow King, no caso da Débora, e de Julian Barnes e Amy Chua, no caso do David. Houve tempo para passear nas redondezas admirando a paisagem dominada pelas montanhas e pelo nevoeiro e houve tempo para meditar e para partilhar pensamentos com o papel e um com o outro.
O espaço é muito bonito, com construções em madeira e canteiros de flores bem cuidados. A parte reservada para a hospedaria é um edifício em madeira com uma espécie de pátio interior a fazer lembrar os claustros monásticos. Está tudo muito bem equipado e nem os constrangimentos elétricos (ainda frequentes e quase ininterruptos nas últimas duas semanas conforme nos explicou o sr. frade) foram motivo de perturbação. De qualquer forma não tínhamos levado equipamentos elétricos e as leituras podiam fazer-se no pátio sob a luz natural esbranquiçada por via de um sol escondido atrás do nevoeiro.
O duche fez-se de água tépida, improvisado e à maneira indonésia, com gayon, porque as casas de banho estão muito bem equipadas mas o sistema de aquecimento não recebeu energia suficiente para funcionar. Mas isso também fez parte da boa aventura.
Foi um fim de semana de pura tranquilidade e regressámos a Díli com o desejo de voltar a visitar Laclubar caso surja uma boa oportunidade. Nem o percurso acidentado nos demove! E se ele é acidentado!... Vejam lá no vídeo abaixo: